sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Canto morto

Morreu Arjuna.
De Aquiles foi-se a fama.
Odisseu, Eneias, Belerofonte
não há mais.
Há só concreto e sangue sob asfalto.
E a lira jaz caída, perdida num canto,
carcomida pelo pó voraz de nossos tempos.
Isolda e Brunhilda não voltarão
Penélope apaixonada também não há mais.

Hoje há só retinas
e os raios de luz absorvidos
O mundo voltado para fora, sem a mínima solução.
Vivemos pois em tempos baços
e heroicos, de rouquidão extrema,
pois as verdades dos outros
cintilam sobre nós
de um modo vulturino.

Já o véu que carregamos aqui por dentro
jamais se derramará
novamente sobre a terra.

Estes sim são tempos heroicos.






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A melhor maneira - ou a única - de começar 2010 é com alguns versos. O próprio canto do poema é prosaico e gaguejante, seja na pontuação, seja no vocabulário sem invenção.
Queria ter disposição para discorrer mais sobre um tema caro, a fantasia e seu lugar no nosso século, mas não tenho pique para isso agora e não terei tão cedo. O que posso garantir é a posição da trincheira, a vigília apoiado na velha alabarda e a comida do hipogrifo de Ruggiero.

domingo, 27 de dezembro de 2009

Podem escrever compêndios sobre a vitória da melancolia e da sisudez sobre a alegria irrefletida; podem até mesmo carregar uma faca serrilhada na cintura, portando a pretensão de rasgar o véu das ditas 'ilusões'; podem fazer o que desejarem. Nada, porém, é mais sublime que o ser amado olhar para você e dizer, com os olhos cheios de ternura, "Você está bonito hoje".

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Mais avulsos

Há momentos em que o tempo parece se comprimir, dobrar-se a uma vontade alheia e anônima. Hoje passei por algo assim, quando vi a aurora começar a sorrir por trás de uma árvore velha. Pássaros conversando e insetos indo embora, após a noite de vigília rodeando a lâmpada pública, também em frente à minha janela.

O desvelamento paulatino da luz é um efeito mais mágico do que físico; é rotação de um grau da roda, que, decerto, completará seu ciclo, quando, enfim, o recomeço - ou será o desfim? - tocar sua trompa e as coisas se refizerem, cada uma à própria imagem e talvez semelhança.

É incrível como eu escrevo asneiras quando estou com sono...

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

3h47. Em vez de ir dormir, estou criando personagens pra uma historiazinha steampunk. Desse jeito minha saúde vai pra merda, viu...

Mas e daí? E estou ouvindo Cueio Limão pra ficar acordado.


Uma canção de amor que tem versos como "Quem é o mestre?/O mestre é o Leroy" e "Só uma coisa me consola/O Paul Simon na vitrola" merece ser ouvida!

sábado, 7 de novembro de 2009

Morte Abreviada

Encontrei este texto numa folha de papel dobrada dentro de um volume antigo das Vidas Paralelas, o que compara Alexandre e Julio César. Não consegui encontrar uma relação direta entre o conteúdo do texto e o livro em que ele estava guardado, ou esquecido. A ideia de alguém que não morreu e que comenta isso, mesmo de um modo fragmentado, soa como um curioso absurdo. Acredito que seja apenas ficção.

Eu deveria estar morto. Por algum motivo que não sei explicar, estou aqui, ouvindo blues num aparelho que só tem um fone funcionando, andando por esta avenida mal iluminada.

O bando de gente que volta para casa depois de um show ruim e lota o metrô com conversas inúteis já não me interessa mais, como muita coisa nesta vida. Já não bebo nem converso; limito-me a balançar a cabeça ao falarem comigo, num gesto que mistura neutralidade, deboche e falso interesse pelo que me é dito. O tempo, que parece ser sábio, nos ensina esses maneirismos.

Toda explicação que dei não tem razão de ser. Eu fiz o caminho de boca fechada e sem movimentos de cabeça. Ainda assim, me irritava com a falação desnecessária e aquele fone que só funcionava de um lado.

Mas e daí? Eu deveria estar morto.

O caso nem é esse~~


O texto subitamente para nesse ponto, como se quem o escreveu tivesse se levantado para fazer algo urgente, já que a última palavra acaba num traço displicente, possível apenas se, ao escrever, a caneta fosse abandonada, jogada na mesa em que o papel estava pousado.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Autoentendimento. Isso não é nada fácil de alcançar. Muitos dos erros imputados a outros têm sua causa no imputador. Por isso, prefiro os que parecem sorumbáticos, mas que se conhecem, aos alegrinhos que culpam outros pela própria mediocridade.

Depois de muito tempo, tremi de raiva e quase dei um soco na cara de alguém.