quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Caminho para a (ponta da) Cidade do Cabo

Quando penso nas chances que a vida ainda me traz de bandeja pelas vias tortas do acaso, o espanto e a alegria me dominam. Mas uma ou outra pedra solta no pavimento me receia a incerteza do futuro, e mesmo o apoio do mundo não me basta. Eu, tão gigante em minha serenidade, perco o prumo com a possibilidade de um "quem sabe" negativo. Se sou gigante, se me acho arrogantemente gigante, por que não paro o tempo com minhas pegadas ou rasgo as distâncias com meus braços?

Porque sou homem, preso ao círculo fechado de minha futura carcaça, ainda animada e cheia de desejos. Sou homem e frágil, e a incerteza me rapina a cada momento, já que por vezes tudo o que tenciono é uma via reta, sem bifurcações. Mas isso não existe, é prosa morta. Tão morta quanto esta caneta, que me abandona a mão e se recusa a escrever.

domingo, 25 de dezembro de 2011

Meu Jesus

Reconstituição do rosto de Jesus (programa Son of God, da BBC);
Jesus Cristo Pantocrátor, basílica de Santa Sofia.
Cristo com coroa de espinhos, Lucas Cranach o velho; 

Pois bem, sangue foi derramado e pessoas foram perseguidas nas muitas batalhas ideológicas a respeito da figura de Jesus Cristo. Homem e deus de existência indissolúvel, revolucionário nacionalista, carne separada do lógos, entre outras representações, Jesus foi pintado com as tintas mais úteis a cada facção, império, seita ou indivíduo, geralmente com um papel bem definido.

O nazareno já outorgou autoridade a diversos governos monárquicos - seja o Cristo Pantocrátor dos romanos orientais, seja o Jesus pregado à cruz da Igreja Católica do Ocidente - e ainda hoje tem seu nome usado por religiões diversas e de modo aparentemente desinteressado, mas também em cultos neopentecostais voltados para pessoas que vivem numa austeridade semelhante à dos primeiros cristãos, mas que acabam sendo enganados por "sacerdotes" que mais se assemelham a retores mal-intencionados que a bons pastores do povo.

Este homem multifacetado é o que hoje chamamos de figura de domínio público. Todos podem usar sua imagem para criar obras de ficção perigosas ou inócuas, como um objeto cultural que gera lucros, mentiras e também desvela algumas verdades.

Pois bem, eu também tenho o meu Jesus, que não é tão Cristo. Sua tez é cor de oliva, os cabelos crestados de sol. Suas mãos têm calos, assim como seus pés, acostumados ao calor das pedras orientais e ao pouco uso de sandálias de couro. A conduta do meu Jesus não é irrepreensível, porque apesar de criança ter discutido com os sábios, ele era ainda uma criança que fazia suas bagunças. Foi um jovem austero, mas alegre, sorridente; homem morto pelos socialmente fortes, porém tíbios em outras áreas.

Ele não nasceu em Belém, pois é nazareno; respeita o próximo, mas combate o que vai contra seus valores, tendo por arma a palavra justa e a ação correta; leva aonde vai sua austeridade sorridente, e tem comportamento exemplar de acordo com a humanidade que possui.

O que posso afirmar é para mim que esse homem não é um deus, mas um dos melhores homens. É idealizado e é meu, minha visão, um exemplo de conduta que moldei com a argila que me foi dada ao longo de minha criação. A dimensão desse Jesus é particular e ética. É um dos meus exemplos de conduta e de vivência, e não se relaciona diretamente à religião. Não consigo acreditar em ícones apenas por serem ícones; nunca conseguiria aceitar valores totalmente alheios à minha natureza, portanto, meu Jesus tem muito do mundo e muito de mim, mas moldado de modo que eu possa me tornar uma pessoa melhor, mais humana, quando olhar para esta imagem que gravei dentro de mim.

domingo, 18 de dezembro de 2011

Ando muito bem, obrigado.

De um lado, triste, mas é uma tristeza que já me acostumei e que me acede uma vez por ano, quando minha irmã e sua família vão embora daqui de casa, durante sua visita anual. Vi a Benedetta aprender a andar - com minha ajuda, que fique registrado! -, o Lorenzo se desenvolver ainda mais e descobrir novas palavras, dividi meu tempo com a Regina, enfim, todas as pequenas coisas que me alegram tanto, mas de que não posso sempre usufruir.

De outro, feliz, por ter conhecido tantas pessoas boas em um curto período de tempo. Minha vida profissional e pessoal girou como boleadeira daqueles gaúchos míticos e talvez tenha acertado algo bom que estava correndo pelos Pampas. Metáforas tontas à parte, quero mudança e quero continuar com este coração tranquilo.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

E então, aquela estranha estrela brilhou dentro de mim

Curiosamente meu padroeiro, Santo Acaso, continua a me surpreender todo dia. Por vezes, são vicissitudes que ele traz em sua algibeira; por outra, pequenas alegrias na forma de um texto antigo achado dentro de um livro, ou mesmo boas pessoas que surgem como que trazidas pelo vento. Neste último caso, acabam deixando um efeito colateral em mim, um sorriso silencioso de reverência por estar vivo.

Pode soar piegas isso, e realmente é; mas isso surgiu na minha cabeça assim que acordei e não poderia deixar de registrar este estado de espírito, essa oscilação gerada por conta de uma simples conversa.

Carrego a contradição de gostar de pessoas e ao mesmo tempo desgostá-las. Sou de pouquíssimas amizades e muito colegas, e isso já me rendeu um ou outro dissabor, embora minha memória seja curta quando o assunto é sofrimento.


[Caro leitor, a folha estava rasgada e o restante do texto não pôde ser recuperado.]

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Leituras

Postezinho rápido para não deixar o Pátio esvaziar.

Comecei a ler o Livro dos Espíritos. Há tempos que desejava começar a ler algo da doutrina espírita, religião que conheço tão pouco. O próximo passo: talvez alguns trechos do Alcorão, ou retomar a leitura dos Vedas!

Para quem não sabe, religião é um tema que me fascina, mesmo eu sendo agnóstico. A mistura de fé, mito e técnica que a maioria dos livros religiosos carrega acaba não sendo fruída em toda a capacidade, o que é uma pena! Tantas leituras possíveis, tanto para aprender!

Pois bem, além dele, estou com O homem invisível, A invenção de Orfeu, A sombra do vento e O lobo da estepe para acabar, alguns com pouco menos de uma dezena de páginas para serem terminados. Sim, é vergonhoso... Mas quem tem o hábito de ler mais de um livro ao mesmo tempo conhece este martírio.

domingo, 6 de novembro de 2011

Epitáfio-epítome

O sorriso tímido de Carlos,
Os óculos de Hermann,
O timbre numa carta de Ariosto,
O cigarro do Zé Paulo.

Cada qual com seu pertence.

Só tenho a canalhice deste sorriso franco.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Como o gelo condensado num portão, que, sem saber, corta os dedos de quem por ventura pousa a mão suavemente.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Uma pessoa feliz está sempre mastigando algo, mesmo que seja as próprias vísceras.
Degustando negações? Mude de profissão: Enãologo.
O problema não é agarrar o mundo, mas cravar suas unhas nele.

Bertrand Russell

"A civilização consiste (...) intelectualmente, certo mínimo de conhecimento geral, capacitação profissional e hábito de opinar baseado em provas; moralmente, de imparcialidade, cavalheirismo e um mínimo de autocontrole. Devo acrescentar uma qualidade (...) talvez fisiológica: entusiasmo e alegria de vida."
Bertrand Russell, "Educação e disciplina".

segunda-feira, 25 de julho de 2011

sábado, 23 de julho de 2011

Necessidade

Pobre homem, tu te enganas
quando pensas que olham para ti.
Tu te equivocas ao pensar que há surpresas,
passagens secretas feitas em rochas sem memória.

E então tu procuras.
Cavuca a terra, olha sob um seixo,
entra em tua casa e mira os alfarrábios
como se algum deles contivesse matéria plena de sentido.

E não há. Ao menos não ainda.
Talvez nunca haverá, é impossível prever.

Teu caminho é tu quem faz,
mas sempre te faltarão lajes
e terras aplainadas que te sirvam.
Bem sabes disso, e procuras;
procuras sempre aquela que dará
lajes, plainas, olhares
para, quem sabe um dia,
seguirdes palmilhando a estrada.
Deverias te esquecer por um momento
que dois é mais que um.

Madrugada seca

Meu peito queima.

São bombas que não ouso rasgar,

embora queira rasgá-las.

Minha falta de crença tão sentida

e meu excesso de vontades

combinando-se pouco a pouco, em vias da reação fatal.

Meu ser humano, ser mineral, alcalino.

Meu pensamento, nada divinatório, me diz

Que em solo seco não surgem frutos do futuro.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Post pra testar o app do Blogger pro Android.

Pêndulo ao vento

Meus versos têm saído de trás pra frente nestes dias.

A vista enevoada ajuda - fazer poemas também é modelar nuvens - mas não ultimamente.

Começo a escrever sobre o garoto passando na calçada, me vejo descrevendo Shiva Nataraja.

Penso em feltro, vejo uma menina.

Embora não pareça, tudo entrelaçado por fios finos e longos ao largo numa estrada, prontos pra serem puxados e derramarem tudo sobre esse papel parado à minha frente.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

O entre.

Entre o outro e o eu, um abismo.
Uma sinfonia de notas não tocadas
marcada numa pauta de possibilidades fugidias.
Um abismo, três passos, dez pontes,
cinco paços, dois poentes - que importa?

A distância é infinita.

Minha mão a alcançaria, se a levantasse,
mas não ouso.
Tudo a seu tempo, mesmo as pontes.

Átomo

Fragmento do futuro
não fui nem serei
Perduro.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Astronomia e Poesia

Não encontrei este poema de Carlos Drummond de Andrade por aí, então aqui fica o registro de um dos grandes divulgadores da ciência, Rogério Mourão, e a lembrança da sensação de alumbramento que nosso Universo pode causar às mentes mais curiosas.

O poema está no livro Corpo.



O CÉU

Na quietude da sala, em um dia qualquer
eu conversava com Ronaldo Rogério de Freitas Mourão,
seguidor dos árabes.
O céu veio à conversa.
O espaço dilatou-se
e uma luz diferente,
vermelha, branca,
alaranjada,
pousou em nossas peles e palavras.
Senti que estava perto Betelgeuse,
e Antares e Aldebarã
ocupavam espaço incomensurável na sala restrita.
Tinha à minha frente as três Zuban
- El-Gaubi, El-Schmali, El-Ekiribi.
Nada me atraía mais do que Zamiah,
que fulgiu e sumiu deixando em seu lugar
Merope, Celaene.
Completamente banhado por Sírius e cercado pelas sete Plêiades,
já me desfizera de tudo que é superfície e cuidado e limitações
para viver entre objetos celestes.
- Procyon - exclamei, e Ronaldo apontou
para o clarão de Alumadin.
Vi Margarita, Fomalhaut, no desdobramento abissal
o desfile de corpos ambíguos, intermitentes, enigmáticos.
O céu, o infindo firmamento,
girava em função do verbo solto,
por acaso, na conversa de ignorante e astrônomo.
Por que seguir em frente e de olhos fechados
Se a vida pode ser dançada?

Passeio

Passos levam a lugares inconclusos.
Acredito que nunca devem ser fechados em si;
a surpresa pode estar sob um seixo,
atrás de uma moita ou mesmo
dentro de um caderno roto com caligrafia antiga.
Por isso, nego-me a aferrolhar qualquer cancela.
Permaneço do lado de fora, andando pelo mato aberto
E pedindo licença à árvore em que me encosto,
para juntos olharmos as estrelas.

A busca, ela sim vale mais que o encontro.
É pela busca que corremos, saltamos
e atravessamos o infinito que reside entre
a poltrona e a porta.

O infinito espaço dentro de uma escolha.

domingo, 5 de junho de 2011

O subjeto [trecho]

Havia na estante uma edição das Fábulas Enganosas, com a capa carcomida e desbeiçada. No lugar da lombada, apenas os cadernos e suas costuras desguarnecidas, algumas soltas. O alfarrábio chamou minha atenção e, por fim, acabei retirando-o da prateleira.


Folheando a esmo, parei na página 49, curiosamente no início de uma das fábulas mencionadas pelo título. O nome, estranhíssimo: O Subjeto. Falava de um coelho que se encontrava com um animal de características fantásticas, um anticoelho, ou uma antipantera ou um antibasilisco, que a toda hora mudava de forma e de cor, assim como o som característico que produzia ao se metamorfosear, sempre misturando ao menos três sons diferentes dos animais mais díspares entre si. Ao mesmo tempo, aquele “antianimal” era inanimado. Um objeto, em suma, mas com tantas idiossincrasias quanto possível, e a maior delas era ser inanimado e ao mesmo tempo latir, zurrar e não ter pelos ou bico, e tendo-os. Era o tal do subjeto do título.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Moto-contínuo

Este primeiro semestre foi especial pra mim em muitos sentidos.

Pessei por grandes perdas com uma serenidade que achei que tinha perdido. Com isso, reavaliei muitos de meus atos e posturas, descobri falhas e fortifiquei algumas virtudes.

Voltei a estudar sozinho.

Resolvi deixar a vergonha boba de lado e aprender a dançar.

Fiz novos amigos, reencontrei alguns antigos. Me aproximei mais de pessoas muito queridas, mas que estavam distantes.

Botei um pouco da fantasia do meu mundo no papel e logo mais quero imprimi-la e tentar alegrar algumas crianças.

Agora mesmo ando pensando em coisas novas, coisas que quero concretizar.



Trilha do post: Asian Kung Fu Generation, Aozora to kuroi neko

terça-feira, 31 de maio de 2011

Letra sem música

Ainda vou mexer muito nisso, coloquei aqui só pra não esquecer mesmo. É um rascunho do rascunho.


_____



Hoje é um dia de vento frio
Oh vento nos carregue para
uma estrela que gire
lentamente e amarelo.

Esse ar gelado que enche meu peito
sopre minhas esperanças.
Sopre-as até aquela janela
e faça da minha voz um sussurro.

A fumaça do chá fazendo círculos
e o aroma em cada gota de vapor.

Oh vento nos leve até uma estrela.

Distração, memória

Queria um poema sobre amor
Mas pensava em xícaras.

Em como gostava de seu café puro
com bolo de festa para adoçar.

No chá que - ele bem sabia -
ela tomava nas tardes de outono.

Nos cappuccinos divididos com os amigos.

Na sensação dos dedos gelados
tocando o copo quente de papel.

No banco da padaria lá de sua cidade.

Nos cafés com seu pai, na sua faculdade,
em casa, sozinho com a janela,
as árvores e o vento.

Sem perceber, escreveu um poema de amor pelas coisas.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Pai

Eu estava escovando os dentes para ir trabalhar. Uma tia telefona, minha mãe atende. Meu pai morreu. Minha mãe derrama algumas lágrimas, eu permaneço impassível.

Ainda estou, e sinto-me mal por não ter sentido nada além do espanto no momento da notícia.

Fui trabalhar - como sempre, estou escrevendo no metrô - e no caminho até a estação me lembrei dele, uma figura meio quixotesca, cavaleiro do ridículo que não conseguia domar seus próprios desejos; de riso fácil, sempre com uma piadinha pronta ou uma boa história para contar. Se vivêssemos juntos agora, seríamos grandes amigos.

Dos meus quase trinta anos, vivi dez com ele. Saímos de casa, começamos de novo e sem ele. Vi minha mãe sofrer muito para nos sustentar, enquanto eu vivia com minhas fantasias de criança e observava meus irmãos crescerem - melhor, engrandecerem-se. No começo de minha adolescência o via esporadicamente, e depois ele mudou de estado, indo morar com uma irmã.

Se eu tiver um filho, não quero que sinta o que senti ao saber da morte do pai: indiferença.

Hoje não quero pêsames, não quero nada, apenas que não falem comigo nem que exijam coisa alguma.

Essa distância, essa ausência, ajudou a me moldar. Não sou uma ave que foi ensinada a caçar, mas aprendi a escalar picos sozinho, e devo isso involuntariamente a meu pai, bem como inumeráveis exemplos, para o bem e para o mal.

E basta.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Caligrama I

Primeira brincadeira com os caligramas! Bem gostoso de fazer; imagino como o Apollinaire se divertia com isso.

manhã - 22/01/2011


Por que o fantástico, a escolha pela fantasia? A pergunta, simples, não tem como par uma resposta satisfatória.

Talvez eu ame o fantástico por não acreditar ou não me satisfazer com o que o real me traz, seja ele o cotidiano, seja a literatura. Posso assegurar que a literatura sobre o tédio burguês, que tanto ensinam nas faculdades, é pra mim tão enfadonha quanto um pão seco e um copo de café com leite, ou seja, tem lá sua utilidade, mas não me interessa de modo nenhum. Em contrapartida, a literatura do estranho exerce um fascínio sobre mim, proporcionando curiosos estados de alma, uma euforia misturada com estupefação. É algo difícil de explicar.

Percebi minha necessidade por ângulos diferentes e curiosidade pelo novo, embora esse novo geralmente não se coadune com as novidades práticas ou úteis de modo imediato, ao passo que teorias e visões particulares de mundo encantem-me - exceto as filosofias metafísicas que pressupõem estruturas rígidas e engessantes. Não as chamaria de falsas, pois julgo que "realidade" é um conceito aberto que depende muito do observador.

Novamente, por que o fantástico? Uma escolha, uma inclinação? Sei lá a resposta.



Imagens:
Emma Bovary, Charles Léandre.
Gilgamesh, Yoshitaka Amano.

Máximas mascaradas

E um monte de gente pensa assim.

"Não basta estar bem; você deve estar ótimo."

manhã - 16/09/2010

Fui lá comprar um presente. Escolhi uma caixa bem bonita, roxa com bolinhas brancas.

Aproveitei e fui até a seção de discos. Procurava algo que prestasse na parte de música brasileira, até que ouvi uma voz que soava entre o solícito e o mecânico: "A velha guarda fica aqui, logo embaixo do chorinho". Fui ao outro lado da prateleira e vi o vendedor se afastando, enquanto seu interlocutor se abaixava, um homem idoso mas de muito vigor, poucos cabelos e mãos inquietas que não passavam mais do que três segundos sobre cada caixinha.

- Essa Revivendo tem capas horríveis - tentei entabular uma conversa. A resposta foi um "é..." meio entediado, seguido de uma pergunta, semelhante a um teste para iniciados, respondida até que com certa facilidade.

A conversa seguiu e foi muito boa, embora curta. Não sei se lisonjeiros ou imprecisos, mas estimamos as idades, 20 e 65; erros grosseiros, tínhamos 29 e 79. Ele, fã de Dalva de Oliveira, faz aniversário dia 20 de setembro! Chegamos a cotejar algumas similitudes virginianas, ele com LPs, eu com livros.

Seu nome eu esqueci, mas tinha cara e jeito de Antônio, além do mesmo espanto que o meu, encontrar alguém com gosto musical semelhante.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Pessoas muito parecidas são como dois pássaros voando juntos: ao se tocarem, correm o risco de cair.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Pequenas mudanças

Mudei um pouco a descrição do blog.

Eu achava a anterior mais bonitinha e tudo o mais, mas um pouco pedante...
E troquei a foto também! A anterior era de 2006. De lá pra cá meu rosto mudou um pouco, o cabelo, as atitudes. Amadureci bastante ao longo desses anos, e pegando o que venho escrevendo, a diferença se nota.

Bom, vou deixar a antiga descrição aqui pra que fique registrada - e porque eu achei bonita, conforme já disse. ;)

"Aqui atualizo e exponho algumas das dúvidas, limitações e pequenas alegrias de meus dias, de modo titubeante e esparso, como cabe a um indeciso de mão cheia. É meu pequeno patíbulo onde mato as horas ainda não mortas, sepulto as ideias e vejo-as renascer sob outro signo."

Manhã de maio

Minha cabeça anda toda invencionada.
Pra todo o lado que olho,
que na verdade é o lado de dentro,
vejo a mesma coisa, escondida por mil cifras.
Embora eu desejasse explicar do modo simples,
as coisas só me vêm de jeito torto,
que é o jeito certo, já que galho não tem régua.

A melhor coisa a fazer é abrir a janela.
Sentir a lufada de ar rir no meio dos cachos,
a luz perene acariciar a pele
e a terra murmurar que está com sede.

domingo, 10 de abril de 2011

Nulo

O chão some, surge a queda.
A vala no fim da rua,
A água suja que a percorre.

Ausência de tristeza, de tudo.
Apenas um vazio,
Sem vento frio nem nada.

A própria vergonha de não saber sentir
sustenta
Impassível cariátide.

A face de mármore,
O peito anestesiado para a vida.
Um sentimento que não é um sentimento.

É um fim.

quinta-feira, 3 de março de 2011

28/02/11

Esta hora já passa das onze da noite, e a garoa boia esparsa e cai no asfalto, que rebrilha com as luzes dos faróis. O frio agora só é barrado pelos pêlos de meus braços, isso enquanto espero a passagem de algum táxi vazio que possa me levar para casa.

O serviço de rádio-táxi estimou cinquenta minutos de espera; agora, não há previsão. Em vez de acompanhar a queda da garoa da janela de casa, registro o movimento dos carros, tão pouco dissonantes quanto quereria eu que os fossem.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Meta e treino

Ultimamente eu tenho escrito muita coisinha miúda, sempre em forma de narrativas curtas, num espasmo que vem durando dois dias. A meta é permanecer treinando e escrevendo, seguindo o conselho de Braulio Tavares: "escrever sempre (um pouco, mas todo dia) é mais importante do que escrever muito."

A entrevista, por sinal, está muito boa e pode ser lida aqui.

domingo, 30 de janeiro de 2011

Falando de amor

Ferx diz:
Tudo beleza covosco?

[b][c=2]·٠•● Eagleheart ●•٠· ≈ Let's rock! [/c=51][/b] diz:
tudo, e contigo?

Ferx diz:
tudo na perfeita paz
tirando uma discussão que tô tendo com a impressora aqui

[b][c=2]·٠•● Eagleheart ●•٠· ≈ Let's rock! [/c=51][/b] diz:
impressoras sempre são temperamentais

Ferx diz:
tô quase terminando com ela

[b][c=2]·٠•● Eagleheart ●•٠· ≈ Let's rock! [/c=51][/b] diz:
permita que ela dê uma explicação!

Ferx diz:
nossa relação tá ruim faz tempo
quando ela veio morar comigo, piorou.
a gente achou que seria bom, mas ela é cheia de manias
e olha que nem fico cobrando

[b][c=2]·٠•● Eagleheart ●•٠· ≈ Let's rock! [/c=51][/b] diz:
ela fica pensando que pode ser mais que você... Isso é ruim, muito ruim
principalmente, quando ela deve obediência a você, afinal, você é quem a alimenta, dá abrigo...

Ferx diz:
claro, cadê o respeito?
hahahahaha

[b][c=2]·٠•● Eagleheart ●•٠· ≈ Let's rock! [/c=51][/b] diz:
ninguém respeita mais os benfeitores hoje em dia!
huhuhuriheurhuirhuiehruhrewuhu!!

Ferx diz:
ainda mais os paternalistas!!!

[b][c=2]·٠•● Eagleheart ●•٠· ≈ Let's rock! [/c=51][/b] diz:
gente, que horror
já pensou em bater nela? merece uns tapas!

Ferx diz:
Não chega a tanto
ela fica com a luzinha verde pra mim
piscando
fazendo charme

[b][c=2]·٠•● Eagleheart ●•٠· ≈ Let's rock! [/c=51][/b] diz:
hum... Se ela tá piscando pra você, né, ainda há esperança!


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Elys, valeu pela conversa!

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Só há uma coisa melhor que acordar cedo: dormir até tarde.
Acordo como o Bozo, passo o dia como o Tropeço e vou deitar como o Ramsés.
A desunião faz a forca.
Aceita-se cartões de crédito e de óbito.
A priori: eu deixo pra depois.
Quem está sempre feliz é triste e não percebe.
Lembra-se daquele cara que morreu de falência múltipla dos órgãos competentes?
Não omita o mito.
Quem primeiro a bater no peito se ufana das próprias qualidades esconde dentro de si truculências, despotências, remelências.
A amizade é inapelavelmente um nervo exposto.
Avó é mãe com diabetes.
Calvície: acontece nas melhores cabeças.
Fé em Zeus e pé na escada.
Te pedem a mão e já querem o baço, com leucócitos e tudo o mais.
Uma das minhas maiores felicidades é ter um lado triste.
De vagar se vai o monge.

Epitáfios possíveis

"Amava aprender, odiava estudar."

"Sempre quis trabalhar, acabou empregado."

"Grande artista, sua maior performance foi morrer."

"Viveu como um passarinho: quase não comia."

"Ateu ferrenho, conquistou o paraíso."
Se tivesse de dizer qual o maior desafio de minha vida, diria que é a inércia.
Uma das melhores invenções será a fantasia.
Dos amigos, tenho convivido bastante com a despensa e a estante.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011