sábado, 7 de novembro de 2009

Morte Abreviada

Encontrei este texto numa folha de papel dobrada dentro de um volume antigo das Vidas Paralelas, o que compara Alexandre e Julio César. Não consegui encontrar uma relação direta entre o conteúdo do texto e o livro em que ele estava guardado, ou esquecido. A ideia de alguém que não morreu e que comenta isso, mesmo de um modo fragmentado, soa como um curioso absurdo. Acredito que seja apenas ficção.

Eu deveria estar morto. Por algum motivo que não sei explicar, estou aqui, ouvindo blues num aparelho que só tem um fone funcionando, andando por esta avenida mal iluminada.

O bando de gente que volta para casa depois de um show ruim e lota o metrô com conversas inúteis já não me interessa mais, como muita coisa nesta vida. Já não bebo nem converso; limito-me a balançar a cabeça ao falarem comigo, num gesto que mistura neutralidade, deboche e falso interesse pelo que me é dito. O tempo, que parece ser sábio, nos ensina esses maneirismos.

Toda explicação que dei não tem razão de ser. Eu fiz o caminho de boca fechada e sem movimentos de cabeça. Ainda assim, me irritava com a falação desnecessária e aquele fone que só funcionava de um lado.

Mas e daí? Eu deveria estar morto.

O caso nem é esse~~


O texto subitamente para nesse ponto, como se quem o escreveu tivesse se levantado para fazer algo urgente, já que a última palavra acaba num traço displicente, possível apenas se, ao escrever, a caneta fosse abandonada, jogada na mesa em que o papel estava pousado.

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