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domingo, 9 de setembro de 2018

Pedra de lumiar

vi o caso de um rapaz que o rio levou.
ajudava gente, fundou-se para onde tem indígena
gente ribeirinha, gente do país.
acabou que o rio levou.
ficou a memória para a família.
sorriso, dor, lembrança. orgulho de quem foi bom.
e a gente aqui vivendo, o rio passando.




----------------

Esse poema é uma homenagem a Pedro Yamaguchi Ferreira, advogado e missionário leigo tomado pelas águas do Rio Negro. Topei com sua história por acidente, como tantas vezes acontece ao longo de nossas vidas, e fui tocado por ela.

Para saber mais sobre ele:

https://soundcloud.com/ana-maria-yamaguchi-ferreira/pedro-por-paulo-suess

https://www.ibccrim.org.br/boletim_artigo/4130-Pedro-Yamaguchi-Ferreira-foi-uma-honra-ter-conhecido-e-convivido-com-voce

https://www.oarcanjo.net/site/homenagem-ao-missionario-pedro-y-ferreira/

https://tremdascebs.blogspot.com/2010/06/palavras-de-pedro-fukuyei-yamaguchi.html

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Quem se preocupa em demasia em "ficar de olho" nos outros tem um olho mau, que perscruta mas não analisa; um olho que apenas confirma o que havia definido de antemão.

domingo, 17 de março de 2013

Sobre a amizade

O que é a amizade para você?

Começo com uma pergunta e pedindo-lhe que reflita comigo a respeito dela.

Uma das coisas que nos define como seres humanos é a vida em sociedade. Saber lidar com o diferente, aprender a valorizar experiências, dividir nossa ignorância e nossos conhecimentos, tudo isso faz parte da vida em comum. Ao vivermos num mundo obrigatoriamente coletivo, percebemos que aos poucos passamos a fazer parte de teias de relações com outros seres humanos (e mesmo com animais, mas isso fugiria ao que quero comentar). Algumas dessas relações nos são dadas, e a isso chamamos família. Outras são construídas e desconstruídas ao longo de nossas vidas, e essas são a amizade e os amores.

Já deu para ver que estou falando de afeto, não é? E afeto em várias escalas, mas o que me interessa neste momento é o que existe entre pessoas que se consideram amigas. A amizade costuma se dar por afinidades, que podem ser de infinitas categorias: de gênero, de gostos afins, de contiguidade num mesmo espaço (quando uma relação de coleguismo evolui para uma amizade) e por aí vai. Se você já teve algum amigo, sabe do que estou falando, certo? :)

E por que a amizade é tão boa, como dizem? Porque é numa relação de afeto que se dão muitas coisas boas da vida! É apenas com um amigo que você pode partilhar quem você realmente é, pode rir de coisas estapafúrdias e agir sem esperar julgamento (ou ao menos, menos). Podemos nos ferir ao longo da vida e sem dúvida nos ferimos, e a amizade é um dos melhores bálsamos de que podemos nos valer. E podemos curar e apoiar também. Esta é uma das belezas da amizade: ela é uma via de mão dupla.

Mas -- sempre há um mas --, quem tem amigos também pode ter problemas. O principal, eu diria, é a provável dissonância que pode surgir numa amizade com o passar do tempo. Qual pessoa não muda ao longo do tempo? Você pode ter filhos, mudar de emprego e de vida, perder os pais, aprender a tocar um instrumento, passar por uma experiência de quase morte, largar tudo e ir para o Alasca, ganhar na loteria, ler um livro que te dê um estalo, entrar na faculdade, se mudar para outro país etc. Ou simplesmente pode mudar sua maneira de ver as coisas com o tempo, paulatinamente, e não perceber a mudança. Acontece que pessoas mudam. Se dessa mudança não vier maturidade, a amizade pode sofrer um forte abalo e se transformar em cobrança ou em uma forma limitada de inimizade.

Assim como na música, na amizade há ressonâncias, pausas, momentos de emoção e outros que dão sono e por aí vai. Não aceitar todos os aspectos dela (ou pior, não buscar entendê-los) seria limitá-la e transformar sua melhor característica, os laços, em grilhões. Quantas amizades não se extinguiram por conta de uma atitude unilateral? E quantas não evoluíram para outros tipos de afeto ou floresceram mais resplandescentes também por conta de alterações de atitudes ou mesmo de uma entendimento mais profundo do outro?

Retirada de: http://planetasustentavel.abril.com.br/album/veteranas-guerra-703029.shtml
jequitibá-rosa


Eu retomo a questão lá de cima. O que é a amizade para mim? Ela não tem um valor em si nem é um poder absoluto que tudo vence; essas são idealizações nocivas. Amizade é interação! Ela não é uma rocha firme, mas uma árvore que cresce com galhos tortuosos em uma matemática própria, e que eventualmente acaba morrendo e dando mudas. Mas lembre-se: existem árvores que vivem mais de um século!


terça-feira, 5 de março de 2013

Vocabulárhio


É curioso como a palavra "emprego" foi limada do vocabulário das empresas, provavelmente porque ela implica um uso: da força de trabalho, do trabalhador. Afinal, se você é empregado, você é, em outras palavras, usado, tal como uma ferramenta, e é assim que as coisas funcionam no sistema em que vivemos.

Trocou-se:
emprego por oportunidade
empregado por colaborador
emprego novo por novos desafios

São sempre palavras que trazem visagens positivas sobre o trabalho numa empresa: a oportunidade de melhorar, o colaborar com uma equipe e assim fazer parte de algo maior que si mesmo, os desafios a serem transpostos e o caráter heroico que isso carrega em seu bojo.

E o que acontece? A verdade é escamoteada, e muitos passam mesmo a acreditar nessas quimeras, esquecendo que uma empresa sempre vai explorar seu funcionários, seus empregados; e isso não é um juízo moral - é tão somente um fato, para o bem e para o mal.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Do espaço e do tempo


Dante Gabriel Rossetti, Giotto pintando retrato de Dante (1852, 36,8 x 47 cm)


Por vezes, sinto-me numa grande paixão platônica: boa parte das pessoas que gosto ou que admiro mora muito longe, e a maioria das músicas que gosto foi composta por gente que já morreu.

Há uma boa dose de nostalgia nisso. Sinto-me partícipe de coisas que não vivi, talvez idealizando-as e mesmo assim vivendo-as. Os festivais nos quais provavelmente não iria se vivesse na época em que ocorreram, as pessoas que tenho por ídolos e com quem talvez tentasse me corresponder. Talvez talves tal ves pensei vivê-las, memórias criadas a partir de canções de época e de filmes em preto e branco. Vivências retroativas, meus amigos que não conheci e os que estão longe demais -- no tempo e no espaço -- para dividirmos um café numa tarde fria de sábado.

Toda nostalgia é um desejo de retorno. Odisseu já a sentia quando estava na ilha de Calipso, pleno de gozo que a ninfa podia-lhe proporcionar, mas concomitantemente vazio de sentido, sem Penélope e Telêmaco a seu lado, ausente de Laerte, seu pai e ex-governante de terra natal, Ítaca. Ele chegava a sofrer, tamanha sua vontade de retorno, de alcançar o nostos. Não é à toa que a palavra grega que representa o retorno ecoa em nossa língua no vocábulo nostalgia. Não é à toa também que dentro de nostalgia haja dor, algé em grego. Não, não é à toa. Mesmo os caminhos errantes dos idiomas, das línguas pátrias que se beijam e se digladiam, trazem sabedoria, e é a sabedoria de mestiçagem, da inserção do diferente, seja o diferente no tempo, seja o no espaço.

E é essa sabedoria que me salva. Toda essa mistura de espaços e de épocas, tudo num ponto focal, tal qual o aleph borgiano, que é nada menos que meu espírito e meu modo de absorver os dados que o mundo me dá. No final das contas, as facetas que não enxergo das pessoas e das coisas eu acabo por construí-las, vou fazendo simulacros e tornando as pessoas melhores do que elas são (e em alguns casos, piores, por que não?). Viram exemplos a serem seguidos, e é assim que melhoro como pessoa. A maneira de minha irmã -- que mora tão longe -- enfrentar as mudanças e sobrepôr-se a elas; o modo admirável como minha amiga Karen enxerga o mundo, a capacidade de Machado desvendar a alma do homem, a extração da humorística poesia do simples de José Paulo Paes, a invenção de Borges, a delicadeza de Neruda, os tantos compositores e poetas sem nome, que deles sobra apenas a obra e o engenho sem rosto, os operários dos monumentos de grandes fundações, o garçom que me sorri às nove da noite.

Ninguém conhece ninguém de verdade. É impossível. Estar sentado ao lado de alguém não me torna mais partícipe de sua vida do que escutar toda a obra de Ernesto Nazareth me permite conhecê-lo, mas posso chamar ambos, Ernesto e a pessoa do lado, de amigo. Para isso, deve haver um sentimento raro e uma atitude necessária: a afinidade e o respeito. Da junção de ambos nasce a admiração, e dela advêm os modelos, que se somam à busca do autoconhecimento. De todo esse tortuoso processo de nostalgia, pertencimento e aprendizagem, venho surgindo como um homem melhor dia após dia, e é por este motivo que não posso negar essa paixão e esse desejo de voltar para onde nunca estive.



sexta-feira, 13 de julho de 2012


É curioso olhar para uma foto e ver um passado destroçado, relações que se romperam, criaram musgo e tiveram suas muralhas carcomidas pelo tempo, quando cada dia equivale a um ano e cada ano torna-se um século. O que antes eram seis ou sete faces sorridentes hoje semelham-se a lembrança estranha e enegrecida, a casca podre do caule da árvore do tempo.

domingo, 1 de janeiro de 2012

O direito de se tornar imbecil


- Aff, esse aí nem deve saber quem foi Stravinski...





Sabe, acho que não tem problema que alguém assista a BBB, desde que não assista apenas a isso.

Não vejo problema algum que alguém goste de ler os romancistas franceses do século XIX, desde que não leia só isso.

Que fazer com alguém que adora Pringles? Essa pessoa provavelmente terá câncer, e espero que não coma só isso.

Mas e aí, que fazer com quem critica o gosto alheio? Há pessoas que gostam de Big Brother, e que mal há nisso? É um erro grosseiro sobrepôr sua visão de mundo a outras e a partir dela julgar os atos e os gostos de terceiros.

O programa mencionado é imbecilizante, entretenimento rasteiro e nada contém de pedagógico, como muitas das atrações televisivas de nossos dias, isso é ponto inquestionável. O que critico é a postura de quem se acha portador de alta cultura - que tem um cariz de mediano pra baixo, enfim -, e tenta demonstrar mais conhecimento e interesses que um homem renascentista, postando todo o tipo de links de cultura erudita nas redes sociais. Quem faz isso geralmente adiciona "amigos" que partilhem um mínimo de interesses em comum, e aí destila todo o seu pretenso conhecimento em forma de endereços de internet, sem discussão ou conversa, só essa forma torta de pavoneamento que o mundo digital nos trouxe.

Por que não olhar a própria cauda e com ela abanar as possíveis moscas que pousarem no traseiro, em vez de somente reclamar que a bitola alheia impede que o asno do lado veja o mundo? Não se esqueça que todos temos nossas bitolas, só mudam de tamanho e de material.

Bom, o primeiro texto de 2012 está com esse tom acre, mas eu precisava escrever isso. E, claro, postá-lo nas redes sociais.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Mais avulsos

Há momentos em que o tempo parece se comprimir, dobrar-se a uma vontade alheia e anônima. Hoje passei por algo assim, quando vi a aurora começar a sorrir por trás de uma árvore velha. Pássaros conversando e insetos indo embora, após a noite de vigília rodeando a lâmpada pública, também em frente à minha janela.

O desvelamento paulatino da luz é um efeito mais mágico do que físico; é rotação de um grau da roda, que, decerto, completará seu ciclo, quando, enfim, o recomeço - ou será o desfim? - tocar sua trompa e as coisas se refizerem, cada uma à própria imagem e talvez semelhança.

É incrível como eu escrevo asneiras quando estou com sono...

sábado, 6 de junho de 2009

Haja saco.

Por que poetas têm de ser tão chatos? Querem explicar sua obra mesmo quando ninguém está interessado nela, entregam ou prometem entregar poemas ruins e/ou pretensiosos a quem não gostaria de cruzar com esse tipo de maluco ensimesmado e geralmente se acham "malditos" – há de se reparar na gritante diferença entre "poeta maldito" e "maldito poeta"!

Por isso não aceito que me chamem de poeta. Posso até fazer poemas, mas não sou – graças a deus – poeta. Se eu soubesse fazer banquinhos ou pintar usando aquarela, não seria marceneiro nem pintor, seria?

A tempo: Escrevi este texto ontem de madrugada. E não é que trombei com alguns desses morféticos numa das andanças pela cidade? Mas que dureza...

sexta-feira, 20 de março de 2009

É curioso como a alegria de outras pessoas pode nos contagiar. Ainda mais quando essa alegria vem de algo conquistado depois de tempos de apreensão, tempos esses dos quais também participei, embora de modo mais ameno.

sábado, 28 de fevereiro de 2009

Acabei de chegar do casamento de um amigo. Não fui à festa, era longe e eu estava sem paciência.

Meus olhos doem por não ter usado os óculos, mas um sorriso bobo e grande persiste, estampado em minha face há mais de um dia.

No mais, sigamos adiante e vejamos aonde vamos chegar.


A palavra de hoje é: esperança.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Frente a frente (?) – [eu e o outro]

A frase que acabou de aparecer na minha cabeça parece coisa de autoajuda, mas não é: "a confiança constrói-se pedrinha por pedrinha." Destrinchando: conversar, mas não no sentido dialógico – isto é, da troca sistemática de argumentos e estruturas pré-concebidas, a “casca” de conversa –, é mostrar um bom pedaço de como você é. Quanto mais você se mostra, maior é a possibilidade de quem está lhe ouvindo entender o que se passa em sua interioridade (o contrário também ocorre, mas tudo bem, temos provas mais do que suficientes de que o mundo não é feito de entendimento).

Esse momento de exposição é algo que parece fácil de ser alcançado, mas não é: afinal, por que tirar a máscara que nos dá uma proteção aparente de nossa interioridade, por que desafivelar a persona tão bem presa à face? E como fazer isso? Bem, sei pouco sobre isso, mas a confiança no outro é fundamental. E a confiança aumenta a cada confidência, a cada olhar ou gesto trocado entre pessoas que tiraram suas máscaras, ou que, pelo menos, usaram outras que não cobrem suas faces por completo.

Mas o que seria de nós sem a defesa do sorriso cínico ou a ironia ácida que nos faz rir por dentro? Decerto já não haveria muita gente por aqui, ou então viveríamos todos num raio de quilômetros um do outro.

Então, qual seria o dilema afinal de contas? Seria para quem tirar a máscara. Mas dar conta desse tipo de explicação já foge do que acho que sei. As descobertas estão aí para serem feitas, não explicadas; como já disse, isso aqui não é autoajuda, certo?

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Carta para não ser entregue

Querida,

cada vez que leio algum de seus textos antigos, percebo que as coisas não são como eu gostaria. Meu lado egoísta não permite que entenda que não sou o único na sua vida, o primeiro sobre o qual seus olhos pousaram. Minha sorte? Esse lado egoísta é pequeno, como qualquer coisa pequena e mesquinha desta vida.

Quando sinto teus braços, o cheiro do seu ombro impregnado em minha boca, tudo se torna diferente, e aquelas dúvidas geradas pela confluência do passado com o nosso presente se dissipam. Basta um sopro e não há mais nuvens cinzas, ligações ou lembranças inoportunas.

Há apenas uma estação de trem num dia de chuva límpida.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Subterfúgios para a arte do voo


Pulei barrancos, passei por frestas impensáveis, quebrei cadeados, rasguei alambrados. Antes, ainda, escalei muros, desviei de motos sem disciplina e automóveis desalmados.


Corri, corri muito. Ainda distante da arte de voar, descansei sobre a sombra de um chorão, último dos seus naquele bairro empoeirado que eu atravessava. Aquela árvore frondosa trouxe-me lembranças difusas da infância, quando eu amarrava um pano no pescoço e revoava o mundo plano de meu velho quintal, que não é mais.

Por ter desaprendido até mesmo a deixar o vento me levar, corro. Prefiro correr a jazer morbidamente dentro de um carro.

Espero chegar logo a meu destino.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Avulsos II

Estou ouvindo um som muito legal enquanto escrevo. Já paguei o aluguel e o IPTU deste apartamento; ainda falta a mesa, o sofá e as promessas de fim de ano (sem hífen, sem hífen!).

Evidentemente estou acordado agora – oh! – e continuo da mesma maneira que estava há um mês, dormindo pouco e consequentemente (sem trema, sem trema, aaaaaargh!) babando em cima do serviço. Mas isso não quer dizer que as provas saem babadas. Eu espero elas secarem, e ainda faço meu serviço de maneira benfeita.

A dica de hoje é: procrastine sempre que possível e faça bom uso de sua insônia. (Esta última frase nada tem a ver com o resto do post.)

quinta-feira, 8 de março de 2007

Pensamentos avulsos

Não suporto mais a cidade, todo esse barulho, calor. Acordo para ir trabalhar e, já próximo, sinto um cadeado apertar-me a garganta, uma secura, poluição.

Todo esse barulho me faz mal, ao menos pela manhã. Ao chegar da tarde já estou integrado ao caos, por mais que soe (sou) contraditório.

O prédio onde trabalho tem quatro andares – trabalho no último. Não gosto de elevador, escada rolante...a escada rolante é a negação do movimento! Que venha abaixo a escada rolante!...


Entre o falso e o costumaz me esgoto
Vivendo numa quase-cidade: esgoto.
Mirando o meio-fio desengulo o desgosto.

Vivo pois assim, numa coisa
estranha que em mim cria
sensação de não sei dizer.

Cidade, às vezes acho que te odeio.


Esta luta diária me deixa lento, mole e murcho. Só me dá vontade de olhar pro céu, pra rua, ver as pessoas passarem, todas com pressa...