Ah, estrela matutina!
És alva, bela, peregrina.
Antes do ocaso tu já surges
Mas em sua teimosia
Não perfazes constelação.
[O último verso é tão deslocado musicalmente como é a estrela matutina e como são todos os introspectivos, que ousam brilhar apenas para si e na luz do dia, um brilho que parece opaco e fugidio para todos aqueles que não sabem olhar.]
sábado, 18 de fevereiro de 2012
sábado, 11 de fevereiro de 2012
quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012
Opinião
Defeitos, defeitos, o mundo vai cheio.
Os meus, os tenho! Quem não tem!
Mas a verdade é que nunca erro.
In dubio pro ego.
Os meus, os tenho! Quem não tem!
Mas a verdade é que nunca erro.
In dubio pro ego.
domingo, 1 de janeiro de 2012
O direito de se tornar imbecil
![]() |
- Aff, esse aí nem deve saber quem foi Stravinski... |
Sabe, acho que não tem problema que alguém assista a BBB, desde que não assista apenas a isso.
Não vejo problema algum que alguém goste de ler os romancistas franceses do século XIX, desde que não leia só isso.
Que fazer com alguém que adora Pringles? Essa pessoa provavelmente terá câncer, e espero que não coma só isso.
Mas e aí, que fazer com quem critica o gosto alheio? Há pessoas que gostam de Big Brother, e que mal há nisso? É um erro grosseiro sobrepôr sua visão de mundo a outras e a partir dela julgar os atos e os gostos de terceiros.
O programa mencionado é imbecilizante, entretenimento rasteiro e nada contém de pedagógico, como muitas das atrações televisivas de nossos dias, isso é ponto inquestionável. O que critico é a postura de quem se acha portador de alta cultura - que tem um cariz de mediano pra baixo, enfim -, e tenta demonstrar mais conhecimento e interesses que um homem renascentista, postando todo o tipo de links de cultura erudita nas redes sociais. Quem faz isso geralmente adiciona "amigos" que partilhem um mínimo de interesses em comum, e aí destila todo o seu pretenso conhecimento em forma de endereços de internet, sem discussão ou conversa, só essa forma torta de pavoneamento que o mundo digital nos trouxe.
Por que não olhar a própria cauda e com ela abanar as possíveis moscas que pousarem no traseiro, em vez de somente reclamar que a bitola alheia impede que o asno do lado veja o mundo? Não se esqueça que todos temos nossas bitolas, só mudam de tamanho e de material.
Bom, o primeiro texto de 2012 está com esse tom acre, mas eu precisava escrever isso. E, claro, postá-lo nas redes sociais.
quarta-feira, 28 de dezembro de 2011
Caminho para a (ponta da) Cidade do Cabo
Quando penso nas chances que a vida ainda me traz de bandeja pelas vias tortas do acaso, o espanto e a alegria me dominam. Mas uma ou outra pedra solta no pavimento me receia a incerteza do futuro, e mesmo o apoio do mundo não me basta. Eu, tão gigante em minha serenidade, perco o prumo com a possibilidade de um "quem sabe" negativo. Se sou gigante, se me acho arrogantemente gigante, por que não paro o tempo com minhas pegadas ou rasgo as distâncias com meus braços?
Porque sou homem, preso ao círculo fechado de minha futura carcaça, ainda animada e cheia de desejos. Sou homem e frágil, e a incerteza me rapina a cada momento, já que por vezes tudo o que tenciono é uma via reta, sem bifurcações. Mas isso não existe, é prosa morta. Tão morta quanto esta caneta, que me abandona a mão e se recusa a escrever.
Porque sou homem, preso ao círculo fechado de minha futura carcaça, ainda animada e cheia de desejos. Sou homem e frágil, e a incerteza me rapina a cada momento, já que por vezes tudo o que tenciono é uma via reta, sem bifurcações. Mas isso não existe, é prosa morta. Tão morta quanto esta caneta, que me abandona a mão e se recusa a escrever.
domingo, 25 de dezembro de 2011
Meu Jesus
Reconstituição do rosto de Jesus (programa Son of God, da BBC);
Jesus Cristo Pantocrátor, basílica de Santa Sofia.
Cristo com coroa de espinhos, Lucas Cranach o velho;
Pois bem, sangue foi derramado e pessoas foram perseguidas nas muitas batalhas ideológicas a respeito da figura de Jesus Cristo. Homem e deus de existência indissolúvel, revolucionário nacionalista, carne separada do lógos, entre outras representações, Jesus foi pintado com as tintas mais úteis a cada facção, império, seita ou indivíduo, geralmente com um papel bem definido.
O nazareno já outorgou autoridade a diversos governos monárquicos - seja o Cristo Pantocrátor dos romanos orientais, seja o Jesus pregado à cruz da Igreja Católica do Ocidente - e ainda hoje tem seu nome usado por religiões diversas e de modo aparentemente desinteressado, mas também em cultos neopentecostais voltados para pessoas que vivem numa austeridade semelhante à dos primeiros cristãos, mas que acabam sendo enganados por "sacerdotes" que mais se assemelham a retores mal-intencionados que a bons pastores do povo.
Este homem multifacetado é o que hoje chamamos de figura de domínio público. Todos podem usar sua imagem para criar obras de ficção perigosas ou inócuas, como um objeto cultural que gera lucros, mentiras e também desvela algumas verdades.
Pois bem, eu também tenho o meu Jesus, que não é tão Cristo. Sua tez é cor de oliva, os cabelos crestados de sol. Suas mãos têm calos, assim como seus pés, acostumados ao calor das pedras orientais e ao pouco uso de sandálias de couro. A conduta do meu Jesus não é irrepreensível, porque apesar de criança ter discutido com os sábios, ele era ainda uma criança que fazia suas bagunças. Foi um jovem austero, mas alegre, sorridente; homem morto pelos socialmente fortes, porém tíbios em outras áreas.
Ele não nasceu em Belém, pois é nazareno; respeita o próximo, mas combate o que vai contra seus valores, tendo por arma a palavra justa e a ação correta; leva aonde vai sua austeridade sorridente, e tem comportamento exemplar de acordo com a humanidade que possui.
O que posso afirmar é para mim que esse homem não é um deus, mas um dos melhores homens. É idealizado e é meu, minha visão, um exemplo de conduta que moldei com a argila que me foi dada ao longo de minha criação. A dimensão desse Jesus é particular e ética. É um dos meus exemplos de conduta e de vivência, e não se relaciona diretamente à religião. Não consigo acreditar em ícones apenas por serem ícones; nunca conseguiria aceitar valores totalmente alheios à minha natureza, portanto, meu Jesus tem muito do mundo e muito de mim, mas moldado de modo que eu possa me tornar uma pessoa melhor, mais humana, quando olhar para esta imagem que gravei dentro de mim.
Jesus Cristo Pantocrátor, basílica de Santa Sofia.
Cristo com coroa de espinhos, Lucas Cranach o velho;
Pois bem, sangue foi derramado e pessoas foram perseguidas nas muitas batalhas ideológicas a respeito da figura de Jesus Cristo. Homem e deus de existência indissolúvel, revolucionário nacionalista, carne separada do lógos, entre outras representações, Jesus foi pintado com as tintas mais úteis a cada facção, império, seita ou indivíduo, geralmente com um papel bem definido.
O nazareno já outorgou autoridade a diversos governos monárquicos - seja o Cristo Pantocrátor dos romanos orientais, seja o Jesus pregado à cruz da Igreja Católica do Ocidente - e ainda hoje tem seu nome usado por religiões diversas e de modo aparentemente desinteressado, mas também em cultos neopentecostais voltados para pessoas que vivem numa austeridade semelhante à dos primeiros cristãos, mas que acabam sendo enganados por "sacerdotes" que mais se assemelham a retores mal-intencionados que a bons pastores do povo.
Este homem multifacetado é o que hoje chamamos de figura de domínio público. Todos podem usar sua imagem para criar obras de ficção perigosas ou inócuas, como um objeto cultural que gera lucros, mentiras e também desvela algumas verdades.
Pois bem, eu também tenho o meu Jesus, que não é tão Cristo. Sua tez é cor de oliva, os cabelos crestados de sol. Suas mãos têm calos, assim como seus pés, acostumados ao calor das pedras orientais e ao pouco uso de sandálias de couro. A conduta do meu Jesus não é irrepreensível, porque apesar de criança ter discutido com os sábios, ele era ainda uma criança que fazia suas bagunças. Foi um jovem austero, mas alegre, sorridente; homem morto pelos socialmente fortes, porém tíbios em outras áreas.
Ele não nasceu em Belém, pois é nazareno; respeita o próximo, mas combate o que vai contra seus valores, tendo por arma a palavra justa e a ação correta; leva aonde vai sua austeridade sorridente, e tem comportamento exemplar de acordo com a humanidade que possui.
O que posso afirmar é para mim que esse homem não é um deus, mas um dos melhores homens. É idealizado e é meu, minha visão, um exemplo de conduta que moldei com a argila que me foi dada ao longo de minha criação. A dimensão desse Jesus é particular e ética. É um dos meus exemplos de conduta e de vivência, e não se relaciona diretamente à religião. Não consigo acreditar em ícones apenas por serem ícones; nunca conseguiria aceitar valores totalmente alheios à minha natureza, portanto, meu Jesus tem muito do mundo e muito de mim, mas moldado de modo que eu possa me tornar uma pessoa melhor, mais humana, quando olhar para esta imagem que gravei dentro de mim.
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