segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Poema

Rumo nulo   

As turmalinas foram embora 
travestidas de riqueza em transe. 
Foste ver também? Ainda há muito 
ouro de tolo em substância pura 
carnes inconclusas da terra em suspensão
depuradas em sangue alheio. 
Fazem eco sob muitos mantos. 
Podes ouvir? Talvez, mas ver já não podes. 
Nosso estado é de cavalo domado: 
Podemos correr, trotar, voar se assim quisermos 
Mas ver já não podemos, sequer olhar 
a não ser o que está à nossa frente ínfima. 
Já não temos mãos 
Que tirem a bitola apertada 
E esquecemos de derrubar quem nos açoita. 
És homem, mas agora não basta acordar e renascer e criar 
Qual a tua imagem e semelhança.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Alumbramento de revisor

crédito: arquivo da Família Monteiro Lobato
clique na imagem para ampliá-la


Aí está: uma página de Narizinho arrebitado com marcas de revisão de Monteiro Lobato.
É sempre empolgante deparar-se com pequenos achados na internet (mesmo que esse seja um achado só pra mim e meia dúzia de pessoas...).

sábado, 13 de setembro de 2008

poema

Sem título nº1

A vida purgada de ficção.
Ser alguém que se conhece,
ou não ser ou ter questão.

A vida purgada, desficcionada.
Aplicada em todas as suas regras
matemáticas eliminadas de linotipos.
Eletronicamente solitária.

Ego sum res.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Marcha Turca

Marcha Turca, composição de W. A. Mozart.

Transcrita para o violão e executada por William Kanengiser.






terça-feira, 19 de agosto de 2008

Minhas aventuras de Tibicuera

Uma das melhores coisas que podem acontecer a quem é apaixonado por livros é justamente reencontrar uma paixão da infância. Qual não foi minha alegria ao ver sujinho e baratinho num sebo bagunçado perto de casa um desses amores tão importantes e tão profundos?

Era um livrinho miúdo de capa laranja que narra a história fantástica de um pequeno indígena ao longo de quatrocentos anos (sim, quatrocentos). O livro é As aventuras de Tibicuera e o autor, Erico Verissimo (1905-1975).


O adulto e civilizado doutor Tibicuera é morador de uma Copacabana que vivencia os fortes espasmos modernistas dos anos 1930, e é nesse ambiente que nos conta de forma romântica sua história, de seu nascimento em uma aldeia tupinambá até sua vida de cidadão num país republicano que descende dos navegadores europeus que há tanto tempo invadiram esta terra. O livro, com todo o poder da escrita de Erico voltado às crianças e aos jovens da década de quarenta em diante, anda esquecido. Eu mesmo não me lembrava dele, e não fosse o encontro fortuito no sebo continuaria sem lembrar, tendo apenas uma recordação difusa desse que, curiosamente, ia e vinha pela minha cabeça de tempos em tempos. Curioso, não?

O escritor de Saga não se furtou de inserir em sua narrativa infantojuvenil guerra, amor, morte, nostalgia e crenças diversas, entre outros temas. As aventuras de Tibicuera são as aventuras de nossa terra e compõem um romance de formação de nosso país que se estende ao longo de quatro séculos, formando um pequeno “livro de tudo”. Tomar Tibicuera como metonímia de Brasil não é exagero e essa é uma das chaves dessa grande obra.

A escrita é envolvente e trata a criança como alguém que deve se divertir e se esforçar na busca pelo entendimento do que está lendo. Na página que faz as vezes de prefácio, Erico Verissimo diz:
Eu podia encher este livro com notas explicativas de certas palavras. Prefiro, entretanto, que vocês recorram ao dicionário, habituando-se a consultá-lo em casos de dúvida ou desconhecimento. É um bom exercício não só de paciência como também de honestidade intelectual. E, no fim de contas, sempre gravamos melhor na memória o significado das palavras que nos levaram a folhear dicionários.

Isso é tratar a criança e o jovem como eles são, seres de potencialidades. O salto entre essa abordagem e a atual, que toma jovens e crianças como imbecis, é pungente – abram qualquer livro didático composto nos últimos dez anos e leiam qualquer poema que por ventura exista nele: possivelmente encontrarão um emaranhado qualquer de frases justapostas que subestimam os mais jovens. E ganha-se dinheiro, bom dinheiro, escrevendo bobagens que serão compradas por editoras ditas infantis e publicadas juntas a ilustrações de gosto duvidoso.


Falando em ilustrações, a de capa é de Clara Pechansky (1936-) e as de miolo de Ernest Zeuner (1895-1967), feitas numa época de excelência mágica para a arte de compor livros.
 
 
PS: Esse texto tem 11 anos e hoje penso um pouco diferente e de um jeito menos afetado sobre os livros infantis atuais, mas as notas sobre o livro do Verissimo permanecem. (São Paulo, 13/3/22)

sábado, 2 de agosto de 2008

Um novo semestre começando e mais um serviço pintando. Tudo novo de novo, ao que parece!